Normalmente, quando dirigimos um veículo, focamos nossa atenção no entorno, nos condicionamos de forma que nossos sentidos nos permitam ter uma noção clara do espaço onde nos deslocamos. Olhar em frente, atenção no retrovisor e laterais, prever o que pode acontecer com o veículo que está dois ou três carros à frente do nosso; em fim, aguçar os sentidos. As vezes, um movimento sutil no espaço que alcança nosso ângulo de visão panorâmica, nos dá um toque de alerta: algo, no entorno, está fora do normal. Ele estava jogado na sarjeta, contra o meio-fio. Largado para morrer. E estava morrendo. Tinha uma guia suja amarrada no pescoço ao estilo de laço ou enforcador. Guia que ele mordia no espasmo muscular de uma boca que fedia com o cheiro do corpo que está consumindo suas próprias proteínas. Disseram-me as crianças da favela que fora o "Alma Suja" que o tinha deixado lá o dia anterior. Talvez foi o "alma suja". Talvez não. Talvez foram todos e cada um dos que passaram e deixaram assim. Em esse ângulo da esquina, muito próximo do colégio Vizconde de Porto Seguro, Panamby, passam centenas de carros durante o dia. Passam muitas pessoas também a pé. Passam os meninos que trabalham passeando cães dos apartamentos vizinhos. Passam, passam, passam........ E niguém fez nada para ajudar o animal... VERMES..
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